Testemunho




O MOTOR PAROU

Havíamos suspendido de Recife e seguíamos em direção ao Atol das Rocas para a manutenção do farol automático. Depois da janta, lá pelas sete da noite, mas ainda completamente uniformizado, estava deitado no meu camarote quando, repentinamente, o Navio Faroleiro fica estranhamente sereno. Como Chefe de Máquinas, eu só me despia no momento exato de dormir, pois sabia por experiência própria, que a qualquer momento poderia ter de resolver algum problema com urgência. Imediatamente dei um pulo do beliche ao perceber que o motor principal havia parado em alto mar. Todo navio, mesmo atracado, apresenta intensas vibrações devido a equipamentos, como os de ventilação, que estão sempre em funcionamento.
Já chegava à Praça de Máquinas quando um marinheiro desce as escadas, atrás de mim, para me avisar que o Comandante queria falar comigo. De pronto dei a minha resposta: Diga ao Comandante que acabei de chegar aqui. Quando souber o que está acontecendo e tiver tomado providências irei falar com ele.
Tendo encontrado o supervisor perguntei por que haviam parado o motor e ele me respondeu que a bomba de circulação de água salgada havia parado no que concordei que haviam feito bem.
Perguntei pela bomba de incêndio que é a eventual substituta e responderam-me que não havia pego escorva. Indaguei se haviam aberto a válvula que dava passagem de água para esta bomba e um cabo mostrou-me o volante girando-o sem qualquer esforço. Imediatamente gritei: Abre esta m..., isso é a folga do volante. Então, com dificuldade, ele abriu a válvula e a bomba de incêndio obteve pressão constatada pelo manômetro.
Resolvido o problema subi para falar com o Comandante.
Ao entrar na câmara, aos berros ele me disse:
Esses incompetentes me param o navio em alto mar; ao que retruquei:
Não são incompetentes não Senhor.
Você ainda os defende?
Defendo sim Senhor porque, se eles não parassem o motor devido a falta de resfriamento, o mesmo iria fundir e o Senhor teria de pedir reboque, mas dentro de dez minutos, após esfriar um pouco, já estaremos dando partida na máquina.
Ele se acalmou ao saber que em breve teríamos o controle do navio, pois nesta viagem, por duas vezes em razão da sua alta instabilidade, o navio dera 35º de banda e se tivesse chegado a 40º ou 45º poderia ter emborcado.
Quanto a mim fiquei feliz de não me acovardar perante o comandante ao ter de defender os meus subordinados por terem agido rápida e corretamente.

Comte. Augusto